Por Marcelo Costa
Nassif,
tem uma entrevista do Montenegro ao Valor Econômico em que ele diz, novamente (como você já colocou num post aqui do dia 30 de agosto), que quem sai na frente um ano antes das eleições presidenciais tem vencido. A entrevista parece um panfleto pró-Serra, ou anti-Dilma. Está no site do Ibope e no Valor só para assinantes. O engraçado é que até ele evita falar mal do Lula, dizendo que o presidente é a parte boa do PT e que a população não quer mais quatro anos do partido no poder.
Comentário
O conjunto de impropriedades de Montenegro seria apenas uma curiosidade, não fosse o fato de comandar um Instituto de pesquisa cujos resultados interferem no processo eleitoral.
Ele se comporta como o dono de uma agência de análise de riscos que compra ações de determinada empresa a quem compete ele avaliar. O que garante a isenção?
Confira as jóias na análise de Montenegro:
1. Diz que todo candidato que está na frente um ano antes das eleições sai vencedor. Da redemocratização para cá, o Brasil elegeu Collor, FHC 1, FHC 2, Lula 1 e Lula 2. Nessas cinco eleições em duas – Collor e FHC 1 – a regra não contou. Montenegro diz que não vale porque, no caso de Collor era a primeira eleição pós-democratização e, no caso de FHC 1 houve influência do Plano Real.
2. Fiquemos com as três outras eleições – a partir das quais ele criou essa regra “científica”. Em duas delas – FHC 2 Lula 2 – foi reeleição de presidentes ainda populares, algo que muda totalmente a natureza da avaliação. Como pegar duas reeleições e transformar em regra, ainda mais para uma primeira eleição?
3. Com duas exceções e dois casos de reeleição, sobra UMA eleição a partir da qual Montenegro cria a regra científica: a de Lula 1, depois da ampla desmoralização do segundo governo FHC, com José Serra levando em cheio a rejeição ao seu patrono. Ou seja, Serra era o candidato de um presidente detestado. Pode-se levar a sério a comparação com a eleição atual?
Vamos a outros chutes dele:
1. Analisa a rejeição a Dilma e não leva em conta o baixo conhecimento dos eleitores em relação a ela. Admite que a pesquisa vem no embalo de um mês de Jornal Nacional taxando-a de mentirosa, em cima de um episódio não comprovado.Não leva em conta que o crescimento de Ciro se deu no rastro de uma campanha eleitoral gratuita maciça do PSB (a do PT é no final do ano). Fosse um analista sério, teria que avaliar os efeitos da propaganda eleitoral, da economia bombando no próximo ano, do conjunto de obras que Lula entregará no próximo ano. Mas nada disso conta. Ele simplesmente analisa uma pesquisa estática, uma candidata ainda pouco conhecida submetida a um mês de tiroteio em rede nacional. E despreza todas as demais variáveis. Pergunto: é sério?
2. Trata Dilma como “poste”, mostrando total falta de isenção na análise dos dados. O “Bola Nossa” não esconde suas preferências. No entanto, quando o “poste” Alckmin foi lançado candidato, Montenegro previu a derrota de Lula. Ou seja, não foi capaz de avaliar o carisma do mais popular presidente da história. Não se trata de um erro banal. Equivale a um amador ouvir Yamandu Costa e concluir que ele jamais passaria de um violonista de segunda linha. Dá para levar a sério?
3. Esse amontoado de palpites não mereceria a consideração de nenhum analista sério, não fosse a circunstância de que Montenegro comanda o IBOPE, peça fundamental do jogo político brasileiro, pela influência que exerce sobre as decisões de candidatura, sobre as coligações, sobre as contribuições de campanha.
Autor: luisnassif - Categoria(s): Eleições
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